A mensagem do papa Francisco aos jovens em sua única visita ao Brasil

Na ocasião, o pontífice convocou a juventude para ser revolucionária e ter coragem de ser feliz e amar de verdade

Por Juliana Morales Atualizado em 21 abr 2025, 11h57 - Publicado em 21 abr 2025, 11h53
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apa Francisco, que faleceu nesta nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, visitou uma única vez o Brasil, em 2013, seu primeiro ano como pontífice. O principal motivo da sua vinda ao país foi a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que aconteceu no Rio de Janeiro, e reuniu mais de 3 milhões de fiéis em uma missa em Copacabana, incluindo jovens de todo o mundo.  

“Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações”, disse o papa em seu primeiro discurso no país, onde ele ficou por quase uma semana.

“Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente?”, questionou o papa na ocasião.

Ele ressaltou ainda que “a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo” e isso impõe grandes desafios. “A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser”, declarou.

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A passagem de Francisco no Brasil foi acompanhada por uma agenda cheia de encontros, começando por uma cerimônia de boas-vindas no Palácio Guanabara, onde se encontrou com a então presidente Dilma Rousseff e outras autoridades.

Entre muitos compromissos, o papa visitou a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, onde fez uma oração em uma igreja evangélica da Assembleia de Deus. Ele também aproveitou a visita para inaugurar um centro de atendimento para dependentes químicos no Hospital São Francisco, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 2013 - O papa Francisco percorre de papamóvel, diante de uma multidão de católicos, os 3 quilômetros de percurso do Forte de Copacabana ao palco, no Leme, onde ocorrerá a Missa de Envio
Rio de Janeiro, 2013 – O papa Francisco percorre de papamóvel, diante de uma multidão de católicos, os 3 quilômetros de percurso do Forte de Copacabana ao palco, no Leme, onde ocorrerá a Missa de Envio Tânia Rêgo | Agência Brasil/Reprodução

Após quase uma semana no Brasil, o papa fez discurso de despedida, em que convocou os jovens a serem revolucionários, e terem a coragem de serem felizes e irem “contra a cultura do provisório”. “Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho”, disse na última mensagem.

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Confira o discurso na íntegra.

“Queridos voluntários, boa tarde!

Não podia regressar a Roma sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuoso, a cada um de vocês pelo trabalho e dedicação com que acompanharam, ajudaram, serviram aos milhares de jovens peregrinos; pelos inúmeros pequenos detalhes que fizeram desta Jornada Mundial da Juventude uma experiência inesquecível de fé. Com os sorrisos de cada um de vocês, com a gentileza, com a disponibilidade ao serviço, vocês provaram que “há maior alegria em dar do que em receber” (At 20,35) .

O serviço que vocês realizaram nestes dias me lembrou da missão de São João Batista, que preparou o caminho para Jesus. Cada um, a seu modo, foi um instrumento para que milhares de jovens tivessem o “caminho preparado” para encontrar Jesus. E esse é o serviço mais bonito que podemos realizar como discípulos missionários: preparar o caminho para que todos possam conhecer, encontrar e amar o Senhor. A vocês que, neste período, responderam com tanta prontidão e generosidade ao chamado para ser voluntários na Jornada Mundial, queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e comos demais.

Não se perde nada; ao contrário, é grande a riqueza da vida que se recebe! Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação significa caminhar na direção da realização jubilosa de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”; na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!

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O Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais necessitados. Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Flores para me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria!

Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho. Como fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto (cf. 1Sm 3,1-10). Peçam vocês também a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?

Caros amigos, novamente lhes agradeço por tudo o que fizeram nestes dias. Não se esqueçam de nada do que vocês viveram aqui! Podem contar sempre com minhas orações, e sei que posso contar com as orações de vocês.”

 

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