Desde a pandemia, ingresso de meninas e mulheres na ciência caiu 50%

E olha só: o ingresso de homens em cursos de STEM é o dobro do que de mulheres em uma década. E isso é super preocupante.

Por Andréa Martinelli 13 fev 2025, 06h00
E

sta semana do mês de fevereiro é considerada a Semana Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, um período que marca a importância de termos mais diversidade e a presença feminina nestas áreas que, como você leitor e leitora de CAPRICHO bem sabe, é historicamente dominada pelo gênero masculino.

Um levantamento divulgado nesta semana da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, a partir de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que ainda precisamos caminhar muito para ter equidade de gênero na área de cursos STEM (acrônimo em inglês para ciências, tecnologia, engenharias e matemática).

Isso porque o estudo mostrou que, desde 2020 – ou seja, primeiro ano da pandemia de covid-19 – a taxa de conclusão das brasileiras nestes tipos de cursos foi bem menor do que o dos brasileiros. Esse indicador caiu 48% para elas e 36% para eles. E isso tem uma relação direta com um assunto que já falamos por aqui: trabalho do cuidado.

“Cuidados se referem a trabalhos fundamentais para a manutenção da sociedade, feitos principalmente no âmbito doméstico e por mulheres, de forma gratuita ou remunerada — como limpeza, preparação de alimentos, gestão da casa, cuidados com crianças, idosos e dependentes e apoio emocional”, afirma a pesquisadora Márcia Tait, em texto para a Agência Bori e publicado na CAPRICHO. Parte destes trabalhos ficou na mão de meninas e mulheres no período de isolamento.

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Porém, se levarmos em consideração a década – período entre 2013 e 2023 – o ingresso de mulheres nestas áreas é significativo. O número absoluto de mulheres que entram nas graduações em ciências exatas e biológicas tem aumentado, passando de 176.547 em 2013 para 227.317 em 2023, uma alta de 29%.

Mas, atenção: no mesmo período, o crescimento dos calouros homens foi o dobro, chegando a 56%. A presença masculina permanece muito maior do que a feminina nesses ambientes, aponta o levantamento.

Em 2023, eles eram 74% dos ingressantes e elas, 26%. Proporcionalmente, o ingresso de mulheres tem caído desde 2013, quando era de 30%.

Se, no início da graduação, eles levam vantagem, no fim, os dados indicam o inverso. Em todos os anos analisados, a taxa de conclusão feminina ficou acima da masculina, chegando, respectivamente, a 53% e 37% em 2019.

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A partir de 2020, contudo, esse indicador cai para ambos os gêneros, mas em mais intensidade para elas (48%) do que para eles (36%).

“Os dados indicam que a presença masculina segue preponderante no ambiente acadêmico de ciências, engenharia, matemática e tecnologias, indicando que ainda há barreiras para atrair brasileiras para esses cursos. E a maior prova disso é que, mesmo em menor número, todos os anos a taxa de conclusão é maior entre as mulheres do que entre os homens” , afirma Marcelo Tokarski, CEO da Nexus.

A classificação STEM inclui 3 grandes grupos:

● ciências naturais, matemática e estatística: 22 cursos ligados a ciências naturais, como biologia, física, química, geologia;

● computação e tecnologias da informação e comunicação (TIC): 19 cursos, incluindo ciência da computação, inteligência artificial e outras graduações ligadas ao ambiente digital;

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● engenharia, produção e construção: 88 graduações, incluindo arquitetura e urbanismo.

“Agora, o estudo aponta para uma realidade preocupante: desde a pandemia de Covid, a taxa de conclusão vem caindo entre elas e elas, mas em maior intensidade entre as mulheres, provavelmente reflexo de impactos econômicos, como o desemprego ou a queda na renda, e de questões envolvendo as tarefas de cuidado das famílias”, reforça.

Trabalho do cuidado tira meninas da escola (e da ciência)

E isso tem um impacto drástico, viu? Você aí do outro lado da telinha, lendo a CAPRICHO, já parou pra pensar em como isso está presente no seu dia a dia? Quais funções a sua mãe, avó ou tia realiza dentro de casa? A

responsabilidade de planejar, organizar e tomar decisões relacionadas à casa e aos filhos ficam apenas com elas, que estão sempre sobrecarregadas? E qual o papel do seu pai, tio ou avô?

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Um fato que é importante ressaltar que é todos nós precisamos de cuidados para existir, trabalhar, produzir e ganhar dinheiro. E, sim, isso é trabalho, mesmo que não remunerado e ocupa muito a rotina de mulheres e meninas em nosso país, ocasionando em uma carga mental muito grande.

Mulheres e meninas dedicam aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas quase o dobro do tempo gasto pelos homens. E isso é comprovado pelo IBGE. A edição mais recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua: Outras formas de trabalho, mostra que as brasileiras gastam 21,3 horas semanais nessas atividades, em média, enquanto os homens gastam 11,7 horas. Ou seja, o dobro. Deu pra perceber o tamanho do problema?

É preciso não só políticas públicas que mudem a maneira como vemos essa questão, mas também mudanças de cada um dentro de casa. Essa é uma ideia que toda a nossa galera deve ter em mente para a vida.

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