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Entendi que o acordo da conferência do clima está em uma ‘corda bamba’

É possível que a COP27 que visitamos no Egito fique mesmo só no "blá, blá, blá", sem avanços

Por Helena Branco, especial para CAPRICHO Atualizado em 19 nov 2022, 17h31 - Publicado em 19 nov 2022, 17h27
cop27
Integrantes da comitiva da juventude na COP27 protestam – mesmo contra as regras do Egito – pela falta de efetividade no evento Getty Images/CAPRICHO

O acordo final da COP27, a conferência climática da ONU, está na corda bamba. Após a liberação do primeiro rascunho do documento que determina as ações prioritárias dos países signatários, a União Europeia alegou que prefere não “tomar uma decisão do que tomar uma decisão ruim”, referindo-se ao fato de que considerou insuficiente as ações previstas no primeiro rascunho liberado ontem, dia 18 de novembro, pela manhã.

Pois é. A coisa parece mesmo estar enrolada. Junto com a Girl Up Brasil e a CAPRICHO, fui ver o evento de perto no Egito – apesar ser um evento burocrático e com foco em negociações, deu pra sentir que a juventude presente vem tentando mudar isso e trazer debates e experiências que podem pautar um futuro garantido para todos nós (inclusive, escrevi sobre isso aqui, junto com a Julia Caixeta, em um primeiro texto na cobertura para a CH).

Mas, voltando, o fato é que muitos países veem como inaceitável o que consideram ser uma falta de progresso para frear principalmente as emissões de CO2 (o mal e velho conhecido dióxido de carbono) e manter a meta de impedir que a temperatura global aumente mais de 1.5 graus celsius nos próximos anos. Essa questão é uma “pedra no sapato” de um possível acordo entre as partes, já que o controle desta questão passa por não utilizar mais combustíveis fósseis.

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Especialistas têm alertado que, caso essa temperatura não seja controlada, chegaremos em um ponto em que desastres ambientais ainda maiores aconteçam. Junto com a Grã Bretanha, a Índia sugeriu a diminuição da utilização de combustíveis fósseis e de carvão mineral. Mas este ponto ficou fora do rascunho inicial; e é isso: as temperaturas globais estão perto desse limite e só conseguiremos manter a meta com uma uma real e radical diminuição do uso destas substâncias.

Neste sábado (19), tivemos um segundo rascunho do acordo foi liberado. E é possível que o evento seja estendido por mais um dia – o que é uma demora inédita na história da conferência para que o acordo final seja assinado. O maior impasse nas negociações entre os países está sendo a proposta da criação de um fundo de perdas e danos.

Mas, CAPRICHO, o que é isso?

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Conter o aumento da temperatura do planeta depende de um acordo entre as partes que pode não acontecer em 2022 Getty Images/CAPRICHO

A gente explica: essa demanda surgiu do G77, um grupo de 134 países emissores de carbono. O pedido é que eles auxiliem financeiramente outros países que não emitem a substância na atmosfera, mas são atingidos fortemente pelas mudanças climáticas. O Paquistão por exemplo, contribuiu com menos de 1% das emissões globais e nesse ano teve ⅓ de seu território alagado em decorrência de chuvas e enchentes históricas. Veja só.

Esse fundo é o que pode salvar a COP27 do fracasso. Até o momento, seguimos sem perspectiva de um consenso e avanços reais. Quem está afim de bancar esse fundo e quem é que vai se beneficiar? A China é um país emergente mas também foi o maior emissor de CO2 em 2020, excedendo todos os níveis. O país é responsável por 27% das emissões globais, segundo uma pesquisa do Rhodium Group, realizada em 2019.

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No acordo inicial proposto pela União Europeia, nem todos os países em desenvolvimento seriam beneficiários do fundo. Apenas os considerados “mais vulneráveis” entrariam e, se isso se concretizar, existe a possibilidade de países como China, Índia e potencialmente o Brasil atuarem como contribuintes.

Mas, então, o que vai acontecer?

19 November 2022, Egypt, Scharm El Scheich: Luisa Neubauer, a climate activist with the Fridays for Future movement, stands at a demonstration at the U.N. Climate Summit COP27, showing her palm labeled with the 1.5-degree target. Photo: Christophe Gateau/dpa (Photo by Christophe Gateau/picture alliance via Getty Images)
É isso: estamos de olho países que fazem parte do acordo climático! Getty Images/Getty Images

Ontem à tarde, o Reino Unido já havia realizado um rascunho de proposta sugerindo que esse fundo fosse operacionalizado só daqui a dois anos, quando vamos chegar à 29ª edição da conferência. A medida foi duramente criticada por diversos países e entendida como um retrocesso, já que a proposta não representa uma resposta urgente aos desastres ambientais que já estão impactando a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, em especial no Sul Global (o termo é quase um sinônimo para países em desenvolvimento na América Latina, e nós estamos incluídos, viu?).

Em uma tentativa de ganhar tempo e salvar a conferência deste ano de um possível fracasso, foi sugerida sugeriu a criação de um comitê que estudaria, durante 1 ano, o desenvolvimento de um fundo de perdas e danos a fim de fechar o acordo de beneficiários e contribuintes efetivos. Mas isso seria divulgado apenas ano que vem.

Ou seja, Isso significa que na COP27 que visitamos no Egito pode não fazer grandes avanços pela contenção das mudanças climáticas, mas sim, ser refém de um adiamento das decisões para o ano que vem. É um grande desafio o fato de que os acordos na COP 27 devem ser realizados com o consenso de quase 200 países. Mas enquanto eles pensam nas tentativas de salvar a COP do fracasso, a própria vida na Terra continua em perigo. 

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