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‘Eu desejo garantia dos direitos humanos e reparação para meu futuro’

CAPRICHO + Girl UP Brasil estão na Women Deliver Conference, maior evento de organizações feministas do mundo

Por Maria Antônia Dezideiro, líder regional da Girl Up Brasil Atualizado em 29 out 2024, 18h31 - Publicado em 18 jul 2023, 18h44

Escrever textos sobre expectativas é sempre muito difícil. É preciso manter uma linha delimitada entre o sonho e a realidade. E como jovem ativista dos direitos das meninas e mulheres, percebo que esse binômio é bastante corriqueiro e difícil de se negociar. Foi com o pé no chão, que eu fui enviada como correspondente até a Woman Deliver Conference 2023, em Kigali, Ruanda, na África, do terceiro setor e órgãos públicos para falar sobre igualdade de gênero no mundo – e vou contar tudo aqui nessa parceria editorial da CAPRICHO + Girl UP,.

Eu tenho um lugar privilegiado, nesse sentido: faço parte do programa de jovens líderes da organização desde 2020, onde apliquei e recebi treinamento para aprimorar minha liderança, claro, mas também para ter apoio e suporte em ações futuras.E fazer isso estudando Direito em uma universidade pública é um caminho não convencional, né? E, confesso: fazer o que não é comum pode ser muito assustador.

O tema da conferência que reúne mais de 6 mil pessoas em todo o mundo é “Espaços, Solidariedade e Solução” e vou acompanhar conversas com temas super importantes para o nosso futuro. Ah, e, além de mim, existe mais 300 jovens líderes de vários lugares do globo com absolutamente tudo pago para participar de painéis e discussões, viu?

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Os que mais me interessam são: “Para onde está indo o financiamento para a juventude” e “Filantropia transformadora por meio de colaborações inovadoras: o fundo de resiliência para mulheres em cadeias globais”.

Eu explico: eu gosto de tentar enxergar caminhos para otimizar a cadeia de financiamento do terceiro setor (organizações da sociedade civil, como ONGs, Institutos, etc., que defendem direitos humanos) porque, no final, são elas que tomam as decisões e articulam para que, na prática, nossa vida mude no futuro. Tenho a expectativa de que respondam à minha pergunta: será que realmente os grupos marginalizados estão ganhando autonomia nas decisões e para gerir suas soluções?

E essa responsabilização das organizações é o primeiro passo para compreender que as soluções devem ser coletivas. E não poderiam ter escolhido melhor o país para isso, viu? Ir pela primeira vez para a África sendo uma menina negra que teve sua memória ancestral apagada pela violência do estado tem um valor muito, muito grande. Estou realizando o sonho de atravessar o Atlântico que poucas pessoas como eu têm a oportunidade de concretizar. 

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Mas porque Ruanda?

O motivo é simples: Ruanda é um país que foi negligenciado de todas as formas pelos entes da comunidade internacional. O local é marcado pela constante reparação de danos, que se estrutura na busca por soluções.

Ir para lá discutir igualdade de gênero nesses termos, para mim, é um movimento de memória, reparação (de novo) e esperança (elementos muito necessários para que o nosso sonho se torne realidade). Ruanda é o coração da África, e sua história tem muito a nos ensinar sobre o que eu realmente acredito ser uma verdadeira luta pelos direitos humanos. 

Eu mudei bastante ao longo desses três anos como jovem líder e, além disso, percebi que sonhar é necessário para mudar a realidade, mas que também precisamos ter o pé ancorado na realidade. Entendi que todos os atravessamentos de marcadores sociais da diferença (gênero, raça, classe, idade) fazem com que certos sonhos não se concretizem para muitas pessoas – e que também me atravessam a nível pessoal por ser uma mulher negra – e é hora de imaginar um futuro diferente.

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